16/05/2014

A moda masculina parou no tempo?


via Byline

Sem inovação, setor revende a cada temporada o mesmo da anterior

por Gregory Martins

Moda masculina está morta

Foto: Brock Davis

Falta emoção à moda masculina no Brasil – e ouso dizer que na maior parte do globo também. Ao longo dos anos o homem brasileiro foi sendo encurralado por suas próprias inseguranças e hoje o que se chama de "roupa de homem", através da visão de varejo massificado, é na verdade um reflexo empedrado de uma roupa noventista inexpressiva e cansativa. Parte-se do princípio de que homem não se preocupa com o que veste, isto é ser homem e, por consequência, isto é moda masculina. O medo de ser mal visto levou os homens no sentido oposto das mulheres: nos vestimos mal de propósito.

Mas que mal há nisso? A moda não deixa de ser um dos mais significativos meios de registro temporal, portanto efêmero e altamente volátil. Através de uma roupa é possível ver além do humor e gosto pessoal, como também analisar o momento econômico, o gosto nacional e, sobretudo, o que, afinal, está sendo produzido, comercializado e difundido em um país. Logo, se há o consenso de que o mau é bom, quem somos nós para questionar?

Se somos conhecidos como o lar de muitos estilos – acredite ou não, o Brasil é também um país conhecido por sua moda -, não deixamos de renegar parte de nossa herança no que toca a moda masculina. O que dizer da figura do malandro carioca com seu terno de linho perfeitamente passado e engomado, um retrato de virilidade sempre com um chapéu à mão, barras estreitas sem deixar passar um limão e sapatos bicolores bem lustrados? E Flávio de Carvalho, onde estaria? Onde foi, no meio da nossa história, que perdemos a vontade de inovar? De mostrar quem somos? De sermos quem somos?

No fim dos desfiles as palmas variam entre a gentileza e o status de celebridade do estilista ou marca. Na moda masculina não há palmas para roupas.

Falta emoção mas não faltam criadores de boas ideias. Do grande ao novo criador de moda, de Alexandre Herchcovitch e Oskar Metsavaht a Marie Raz e Igor Dadona. Do produto exportação ao alfaiate do bairro. Há criadores, há criações, há homens. Talvez nos faltem espelhos, talvez nos sobrem preconceitos deslavadamente imbecis.

Onde se encontra a nova moda masculina? Ela existe além do sneaker alado ou as longas camisas brancas? Estudos de forma e volume para os homens, silhueta e a massificação do que é o homem atual foi suprimido, desestimulado. A moda masculina parece ter desistido de tentar mudar quando percebeu que a parede a ser empurrada a cada temporada é muito mais pesada do que os lucros líquidos. É preciso garantir a venda, por isso que estampem camisetas com frases de humor. E vamos perdendo aquilo que pouco tivemos: inovação palpável na moda masculina nacional.

Cabe aos descontentes se manifestar e, por sorte, contar com os novos criadores que surgem. Cabe aos descontentes apostar no novo e fazer o mundo girar.

+ Conheça mais do trabalho de Brock Davis (foto de capa)

Gregory Martins

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