09/02/2014

"É o fim da era dos blogs de moda!" - eles dizem


via Byline

Movimento anti-bloggers desponta na NYFW e em breve chega ao Brasil

por Gregory Martins

Kyle Thompson

Crédito: Kyle Thompson

No fim do ano passado Allison Davis publicou no The Cut uma matéria sobre a decisão da organização da New York Fashion Week de reduzir significativamente o número de convidados de seus desfiles e no topo da lista de corte estariam os blogueiros de moda. Já no início de janeiro o Business of Fashion publicou uma matéria em defesa à participação dos blogueiros na indústria de moda. Por fim, a notícia demorou para ser comemorada no Brasil, mas o foi ainda em tempo do começo da NYFW.

Blogueiros de moda são hoje os mais menosprezados da cadeia, mas é a eles (ou melhor, a nós) que as marcas recorrem em uma co-existência necessária a ambos e em mesmo grau. Muito da velha discussão que acontece no Brasil sobre a relevância dos blogs para a moda se baseia na qualidade do material apresentado por blogueiros do país. E sinto informar que a culpa deste esteriótipo não é só nossa. Basta pesquisar qualquer lista de "Melhores blogs de moda" que, para evitar a concorrência, os indicados são em sua maioria massiva lookbookers. Que, diga-se de passagem, é o mesmo que fazer uma lista de "Melhores fotógrafos de moda" só com instagramers. Ou seja, enquanto se direciona o holofote para alguém que é voltado exclusivamente a fotografar suas peças e não em refletir sobre o mercado, mais audiência se gera para eles. Com mais audiência, mais marcas patrocinam esses "blogueiros" pois a peça de roupa estará sendo exposta para seus milhares de seguidores e o objetivo final é, obviamente, vender. No fim das contas, tudo isso me parece uma historinha maluca que a gente pode não acreditar, mas que martela na nossa cabeça dia após dia. E enquanto grandes veículos pesquisarem bons blogs no Google Imagens isso só tende a piorar.

Nos esquecemos, no entanto, da importância do boom dos blogs de moda para a indústria e comércio do vestuário, cosméticos e perfumes no período de crise econômica alavancando o consumo enquanto investidores estavam receosos (ou falidos). Nos esquecemos que é a própria "moda" quem vende essa postura de carão, glamour e semana de moda como o lugar mais descolado do mundo.

Não se engane. Mais cedo ou mais tarde essa decisão irá reverberar nas semanas de moda brasileiras e, para ser totalmente sincero, sou a favor desta espécie de curadoria. Ela ocorrerá de forma justa? Claro que não, isso ainda é o Brasil. Quem tiver números maiores entra, quem tiver números menores sai (por melhor que seja seu conteúdo). E isso não é exatamente um fenômeno novo por aqui. Qualquer pessoa que se submete ao credenciamento sabe que há um campo onde deve ser preenchido com seu número de leitores. Ora, a ideia é divulgar, não é? E vale lembrar também que a credencial coloca o blogueiro dentro do evento, quem o coloca na sala de desfile é a assessoria de cada marca de acordo da relevância que aquele conteúdo tem para ela. E o blogueiro que não tiver nem credencial, nem convite vai cobrir vendo pela web, assim como fez Cathy Horyn. Ou você acha que blogueiros, conseguem entrar na sala de imprensa e no backstage? E sejamos honesto, você acha que alguma F*Hits não estará nos desfiles? Você acha que algum lookbooker que nem uma url comprada tem não receberá convite disputando a fila com ex-BBB, cantores e atores?

Assim como disse o BoF, os compradores de moda possuem uma única bola de cristal e ela se chama blogs de moda. Somos nós que distribuímos a informação para um número de consumidores que muito jornal pagaria para ter. É óbvio que o jornalismo formal e a grande mídia são detentores do direito de informar o cidadão com responsabilidade, qualidade e ética, na maioria dos casos, e não se pode afirmar o contrário. Mas é preciso deixar de ter aquele velho medo de que as máquinas substituirão os humanos e, em seu lugar, aproveitar o que há de bom nos blogs de moda para preparar a próxima geração de críticos, jornalistas de moda, compradores e consumidores. Há no Brasil uma oportunidade única: em um momento onde a criação se volta ao street style se tem pessoas que pagam por seu próprio ofício e não apenas têm conhecimento do público-consumidor, mas têm contato direto com ele. Marcas e mídias não aproveitarem esta oportunidade é não ter o mínimo de visão.

Os blogs de moda não vão morrer, me desculpe se você esperava o contrário. Estamos mal acostumados achando que as pessoas precisam falar e fazer aquilo que queremos que elas falem e façam, mas o mundo real não é assim. O direito de não gostar de algo é legítimo. Eu, por exemplo, não sou grande fã de golfe, então não assisto ao canal do golfe na tv. Mas isso não significa que o esporte irá acabar no mundo. Aos colegas blogueiros: Vamos nos espertar também,né gente? Ler um livrinho e pesquisar mais um dia não vai matar ninguém.

É o fim do boom dos blogs de moda? Ao que tudo indica, é sim. É o fim da era dos blogs de moda? Adivinha…

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