05/02/2014

A beleza da diversidade na modaparahomens


via Byline

Iniciativas reais tornam a moda uma fonte de bem-estar

por Gregory Martins

Pro Infirmis

Quando se fala em moda logo nos surge a imagem de modelos sub-nutridas, glamour e ostentação. Bom, este olhar tem seu fundo de verdade, mas não é a única visão que a moda pode gerar nas pessoas e, por mais que se duvide ou que não se reflita sobre, a moda também pode ser uma geradora de bem-estar que vai além das compras de sapato.

A moda inclusiva por algum tempo esteve no hype sendo noticiada a cada semana, mas logo deixou os holofotes. Grande parte desta indústria foca no público de pessoas com deficiência física, entre outras limitações. Para se ter uma ideia, no Brasil, segundo o Censo 2010, mais de 45 milhões de pessoas se declaram com algum tipo de deficiência. E não só deficiências fazem parte da moda inclusiva, mas todo tipo de diferença, seja uma diferença racial, seja aquela diferença que nós mesmos nos aplicamos nos excluindo do meio-moda. Mas, claro, todos nós precisamos nos vestir.

A dificuldade do vestir

A atuação da moda inclusiva se equilibra em dois grandes caminhos e fico feliz em perceber que ambos estão em evolução.

O primeiro destes caminhos é inserir a pessoa com deficiência no padrão de beleza. Em um país dado ao ordinário "político-corretismo", vale notar que é a introdução da pessoa no padrão e não do padrão na pessoa. É mostrar que não é porque a alguém tem uma limitação que não pode ser bonito. A beleza está no ser humano e não no potinho de blush.

Diesel Reboot

Recentemente, para a campanha da Diesel Reboot - segunda linha da grife -, o diretor artístico da marca, Nicola Formichetti, convidou seus consumidores a participarem de um concurso onde os vencedores seriam os modelos da campanha da coleção de primavera de 2014. Entre os 23 ganhadores está Jillian Mercado, uma jornalista de Nova York com distrofia muscular.

No ano passado a Pro Infirmis, organização dedicada às pessoas com deficiência na Suíça, criou uma campanha de marketing onde a forma do corpo de pessoas com deficiência viraram manequins em vitrines. "It is special to see yourself like this", declarou uma participante da campanha.

O segunda caminho é produzir peças funcionais para este público, muitas vezes com limitações motoras. A marca inglesa Xeni busca criar exclusivamente roupas funcionais para mulheres com alguma limitação motora, "Wheelchair Fashion". As peças custam em média 200 libras, um valor pouco acessível para os brasileiros, mas por aqui empresas como a Lado B tem crescido criando funcionalidade a preços mais acessíveis. Não são só roupas complicadas que ficam de fora da grade de peças, mas também são incluídas facilidades como o fechamento a velcro no lugar de zíper, por exemplo.

Xeni

Peça Xeni

E não só nos campos da produção de conceito e peças reside a moda inclusiva. Ela também atinge, e com razão, o campos do pensamento. No fim do ano passado se realizou em São Paulo o 2º Fórum Internacional de Moda Inclusiva e Sustentabilidade. E também no último ano ocorreu o 5º Concurso de Moda Inclusiva em edição internacional também na capital paulista.

Moda inclusiva contra diferenças raciais

Deixando por um momento o público com deficiência física, adentramos alguns degraus nas outras diferenças combatidas pela moda inclusiva. 

Em 2009, o Ministério Público de São Paulo e a Luminosidade assinaram um acordo garantindo a presença de, ao menos, 10% de modelos negros dos desfiles do SPFW. No Brasil temos um péssimo olhar para as cotas raciais e, por isso, tomo a liberdade de não chamar este acordo desta maneira, mas como um efeito da inclusão justa, neste caso. Na moda nacional, assim como em outros mercados, a pele clara é bem vista e apreciada, a pele escura nem sempre e, em sua maioria, ou o é por grandes nomes ou por novos nomes da indústria, nunca por marcas de médio porte - que também contempla a maioria. Por quê? As respostas são múltiplas e uma mais mentirosa do que a outra. A resposta mais óbvia que se encaixa em grande parte das campanhas e desfiles é o preconceito contra si mesmo em um momento juvenil da indústria onde ainda copiamos o hemisfério norte e o medo de não vender apostando em diversidade.

A inclusão de si mesmo

Nem todo mundo sente na pele as dificuldades de diferença de tom de pele ou deficiência física, por mais que todo mundo saiba da existência. O que muitos de nós sentem é a diferença que criamos mentalmente e nos separa dos outros, aquela barreira que não nos permite ver além, ver a verdade; aquilo que nos faz desejar uma calça jeans que não precisamos só porque a campanha apresenta uma festa na praia com modelos jovens, magras e de cabelos brilhantes e perfeitamente ondulados.

Uma das mais representativas ações a este respeito é a campanha "Retratos da Real Beleza" de Dove onde mulheres se descreveram a um desenhista formado pelo FBI. Ele, por sua vez, também retrata a descrição de outra pessoa sobre esta mulher. O resultado mostra uma auto-crítica exagerada das mulheres consigo mesmas e o quanto achamos que estamos distantes da beleza sem realmente estar.

As publicações do TrendCoffee sobre cortes e tratamentos de cabelo para os homens trazem o seguinte aviso:

Aviso TrendCoffee

Outra iniciativa vinda dos blogs de moda é do Girls With Style que lançou recentemente a campanha que incentiva suas leitoras a não usarem maquiagem nas terças-feira e postarem fotos mostrando que não há nada de errado com ser e parecer uma pessoa de verdade.

Moda é para todos e o quanto puder ser feito para facilitar seu acesso e a não segregação… melhor. A moda pode sim ser geradora de bem-estar, de satisfação consigo mesmo e promotora da auto-segurança. Que venham mais iniciativas reais e menos blá blá blá.

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